Projetos totalmente femininos, como Skate para Elas e Marina Skt Girls, são alguns dos coletivos que promovem interação com o esporte. Com encontros no Rio de Janeiro e São Paulo, os projetos vêm se expandindo cada vez mais e ajudam no combate ao preconceito
Por Raissa Lima e Milena Dantas
É cada vez mais comum ver mulheres nas pistas de skate, e o sucesso da skatista Rayssa Leal, a 'Fadinha', que conquistou sua segunda medalha olímpica nos Jogos de Paris 2024, não foi o único incentivo. O interesse feminino pelo skate já vem crescendo há algum tempo: segundo uma pesquisa de 2019 realizada pelo Datafolha para a Confederação Brasileira de Skateboarding, das 8,5 milhões de pessoas que praticavam o esporte no Brasil, 26,26% eram mulheres. Esse número representa um aumento de 75% na participação feminina em relação a dados de 2015, também levantados pelo Datafolha.
Skate para Elas e Marina Skt Girls são projetos que ajudam na visibilidade do skate feminino profissional e no crescimento do esporte entre meninas e mulheres. Ambos os coletivos partilham do mesmo objetivo, que é inserir o skate na vida desse público e combater cada vez mais o machismo, muito presente no esporte.

Projeto Skate para elas
O projeto promove mensalmente encontros gratuitos com aulas voltadas para mulheres que tenham interesse em ingressar no esporte. Criado em 2019, na cidade de São Paulo, tem como proposta compartilhar aprendizado, experiências e dicas para mulheres que desejam evoluir no skate. Atualmente, o projeto conta com mais de sete mil seguidores nas redes sociais e vem se expandindo também para o Rio de Janeiro. Aproveitamos um de seus encontros na cidade maravilhosa para conversar com a criadora da iniciativa e professora de skate, Amanda Saraiva.
A skatista de 37 anos relata que a vontade de criar um coletivo surgiu devido à falta da presença de mulheres nas pistas de skate, principalmente nos lugares em que ela frequentava. A professora menciona que começou a receber mensagens nas redes sociais de meninas que queriam ajuda para ingressar no esporte: “Eu recebi algumas mensagens no Instagram de meninas que estavam começando e que queriam saber onde eu andava e se eu poderia ajudar elas”. Com isso, Amanda teve a iniciativa de fazer encontros chamando essas mulheres por meio da internet e começou a desenvolver o trabalho de passar os conhecimentos da base do skate para elas.
A criadora do projeto também comentou como o skate ajuda na saúde mental dessas meninas praticantes. Amanda diz que, além de ser uma atividade física, esse esporte proporciona para as pessoas uma sensação de liberdade e autonomia. Em relato, ela fala: “É um espaço onde podem se expressar e se sentir empoderadas. Quanto à saúde mental, o skate pode ser um ótimo aliado, ajudando a aliviar o estresse e a ansiedade, além de promover a concentração e a autoestima”.
Alunas do coletivo também deram alguns relatos. Uma delas, a indígena amazonense Tecoara Baré diz que sempre foi apaixonada por skate e queria tirar os filhos da rotina de casa. Por isso, sempre os incentivou a praticar qualquer tipo de esporte. “Eu me amarro, gosto mesmo, sou apaixonada! Eu ando muito pouco, quando vou para Copacabana ou até lá em Manaus, eu sempre praticava um pouquinho. Mas agora eu quero aprender mesmo”, contou.

A tatuadora Gabriela Serrano fala que desde pequena tinha o sonho de aprender mais o esporte, mas devido ao preconceito dos pais, só foi capaz de realizar esse sonho quando adulta. “Eu sempre quis aprender, mas meus pais não me deixavam porque skate não é coisa de menina", relata a Gabriela.
Marina Skt Girls
O projeto Marina Skt Girls foi criado em 2022 com um propósito de que cada vez mais meninas possam se sentir confortáveis para praticar esse esporte, que é composto majoritariamente por homens. O coletivo é de Niterói, município do Rio de Janeiro, mas promove também alguns encontros na Praça XV. As meninas que participam do projeto também são ativas em diversas competições.
Gabriella Mascarenhas, estudante de biologia e uma das criadoras do coletivo, é atualmente a única administradora. Foi observando o cenário do skate que a estudante teve a ideia de criar o coletivo: “Quando eu comecei a andar de skate me incomodava muito a falta de meninas ou o quanto eu me sentia insegura na pista”. Logo, a iniciativa foi crescendo cada vez mais e hoje conta com mais de mil seguidores nas redes sociais.
Quanto às barreiras que ainda precisam ser superadas para que meninas conquistem destaque no esporte, Gabriella relata que a maioria dos eventos de skate, principalmente os grandes, são organizados por homens, atrapalhando a equidade das competições. “Muitas vezes eles só convidam as meninas pelo medo de serem cancelados, ou então, convidam meio em cima da hora. Na minha experiência, os eventos com homens organizando sempre foram mais desorganizados para a parte das meninas.”

Daniella Allevato, também membro do Marina Skt Girls, é competidora profissional e já ganhou o Estadual Feminino 2023, além de ter ficado em segundo lugar no Brasileiro Feminino 2021. Quanto às competições, a skatista afirma que as mulheres têm ganhado cada vez mais espaço nesse ambiente e que, até ano passado, a premiação para os homens era maior do que para as mulheres, mas que as coisas esse ano mudaram. A competidora também enfatizou as barreiras que o skate feminino enfrenta: “Eu acho que uma das maiores barreiras é que muitas mulheres não têm apoio das outras mulheres na pista. Sem contar em casos mais sérios, como assédio e outras coisas que acontecem”. Entretanto, Daniella observa mudanças positivas no skate feminino. “Hoje em dia as meninas estão começando a criar coletivos e encontros para ter um incentivo entre nós mesmas e à prática do esporte”.
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