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Atléticas Universitárias mostram como organizar, comunicar e competir

  • Foto do escritor: Lourenço Cavanellas
    Lourenço Cavanellas
  • 3 de abr.
  • 7 min de leitura

Mesmo com pouco incentivo, as associações são diferencial em currículos e auxiliam nos primeiros empregos


Atlética de Engenharia da UFRJ (Reprodução: Associação Atlética Acadêmica Escola Politécnica/@atleticaengufrj)
Atlética de Engenharia da UFRJ (Reprodução: Associação Atlética Acadêmica Escola Politécnica/@atleticaengufrj)

As atléticas universitárias são como um livro que é constantemente julgado pela capa. Ao menos essa é a opinião de parte significativa dos estudantes que fazem parte ou conhecem a realidade e o funcionamento delas. Mais do que bebidas ou festas, tópicos com que são frequentemente associadas: por trás dessa má fama, essas organizações exigem trabalho, competência e entrega para que existam, além de servirem como primeiras experiências que são valorizadas profissionalmente.


Dentro das universidades e faculdades brasileiras, existem as atléticas, que são organizações comandadas pelos próprios alunos, geralmente sem fins lucrativos e com o objetivo de fomentar o esporte e o lazer na vida e rotina do estudante. São formadas por diversos setores — que são chamadas de diretorias — e que cuidam de suas respectivas áreas para que o cenário maior funcione.


Segundo Ítalo Antunes, atual vice-presidente da Atlética de Comunicação e Artes da UFRJ: “É a melhor instituição para se juntar ao entrar na faculdade, porque te permite diversos aprendizados,  acompanhados de novas amizades e uma leveza nas obrigações que são exigidas”.


Atlética de Comunicação da UFF nos Jogos Universitários de Comunicação Social  (Reprodução: Atlética de Artes e Comunicação Social UFF/@aacsuff)
Atlética de Comunicação da UFF nos Jogos Universitários de Comunicação Social  (Reprodução: Atlética de Artes e Comunicação Social UFF/@aacsuff)

As festas existem, claro. Mas são a menor parte desse universo e são necessárias para contrabalançar a falta de incentivo das próprias instituições educacionais. Ítalo explica que elas têm um sistema de arrecadação para proporcionar estrutura para a área de esportes, principalmente. “Mesmo sem fins lucrativos, é importante haver uma gestão correta, saudável e que vise um certo lucro para facilitar a resolução de futuros problemas, para que volte para os estudantes em forma de estrutura e possam treinar e competir com mais tranquilidade.”


Pedro Vinhas, presidente da Atlética de Comunicação e Artes UFRJ, explica que a Tubarões (apelido da associação), diferente de outras atléticas, é menos burocrática. Por funcionar através de trabalho voluntário de amigos e simpatizantes do projeto, não existem eleições ou prestações de contas. Independentemente disso, o presidente e o vice contam com sete diretorias, com dois responsáveis por cada área. “É como se fossem o poder executivo da Atlética”, disse Ítalo.


São elas: Administração, que cuida da logística dos jogos, pagamentos de técnicos, viagens e transporte dos atletas. Eventos, que organiza festas e encontros. Comunicação, que gerencia as redes sociais, campanhas visuais e cronogramas, com apoio das coordenações de design e redes para engajamento. A diretoria de conteúdos implementa as ações de comunicação nas redes sociais. Torcida,  responsável pela bateria e adereços. Esportes, que  cuida do credenciamento, inscrição de atletas e uniformes — é considerada o "coração" da atlética. Produtos, uma das maiores fontes econômicas, cria e vende roupas, acessórios e diversos outros itens, gerenciando fornecedores e logística de entrega. Totalizando sete, elas compõem a atlética.


Para os membros da presidência, através dessas demandas é possível desenvolver diversas habilidades que serão futuramente aplicadas no mercado de trabalho. Os integrantes passam a entender de tudo um pouco, além de compreender cronogramas e respeito às hierarquias. Ítalo diz que entrou para a faculdade com o pensamento de traçar a sua carreira no jornalismo clássico e que, através da atlética Tubarões, ele mudou a sua percepção. “Tive um clareamento profissional”, relatou.


Já Pedro, que entrou na atlética na área de produtos antes de se tornar presidente, hoje faz estágio em uma multinacional. Com funções que já havia experimentado pela atlética, ele afirma que sem dúvidas foi um diferencial ao longo da seleção: “Trabalho em marketing de produtos na L’Oréal. Basicamente a minha equipe é responsável por pesquisar o mercado brasileiro, cuidar do portfólio de produtos e entrar em contato com fornecedores. Tem muita relação com o que eu já havia feito”.


Bateria e torcida da Atlética de Comunicação Social da UFRJ (Reprodução: Baco Filmes/@bacofilmes)
Bateria e torcida da Atlética de Comunicação Social da UFRJ (Reprodução: Baco Filmes/@bacofilmes)

Outro ponto importante a ser destacado é o networking presente nesse ambiente, ou seja, a rede de contatos e possibilidades que são criadas ali e levadas para diversos outros campos da vida pessoal e profissional. “É um potencializador de oportunidades, a pessoa sai com o networking adiantado pela atlética e essa aproximação de cursos”, afirmou Ítalo. Um exemplo mencionado por Pedro Vinhas é a Baco Filmes, produtora audiovisual que surgiu a partir do meio universitário, fotografando jogos e eventos de atléticas. Atualmente, a empresa se tornou um projeto grande e independente.


Pensando nesse lado potencializador, para Lara Kwitko, diretora de marketing e redes sociais na Atlética de Artes e Comunicação Social PUC-Rio e social media na Agência Nova, é preciso um esforço também financeiro. Para se manter participando ativamente de uma atlética e tendo os seus benefícios, ao se referir principalmente aos atletas, Lara apontou um problema: “Se você for praticar um esporte, realmente tem que querer muito. Afinal, é preciso pagar uma mensalidade para cobrir os custos de quadras, treinadores e outras necessidades básicas. O retorno que se tem disso, para além do lazer, é muitas vezes estar inserido numa rede de networking. Eu já vi casos de pessoas que saem por conta da grana, até porque as quadras da PUC e treinadores são caros”, afirmou a diretora.


Esse esforço e dedicação de tempo, dinheiro e vontade, valem a pena quando aparecem os frutos dessa colheita. Ashley Menezes, aluna de jornalismo da UFRJ e atualmente trabalhando no Sportv, destaca como participar da diretoria de comunicação e do time de futsal ajudou para que fosse selecionada para o seu primeiro estágio e também para o atual: “Eu lidava muito com patrocínios, divulgação, multitarefas, e isso me proporcionou um contato direto com a área comercial e publicitária”, disse. “Além disso, pude desenvolver habilidades de trabalho em equipe, gestão de projetos e comunicação que eu destaquei ao longo do processo seletivo, sempre enfatizando como elas me prepararam para qualquer desafio que fosse enfrentar na LiveMode e agora no Sportv.”


Hoje, Ashley trabalha com a parte do pós-transmissão dos eventos esportivos do Sportv, além de cuidar da grade do canal e ser responsável por decidir o que passa e onde passa. Ou seja, diferente de outros personagens como Pedro Vinhas, da UFRJ, e Lara Kwitko, da PUC, não exerce profissionalmente algo que tenha de fato praticado ao longo do período na atlética. Mas, mesmo assim, reconhece que a experiência teve influência para que pudesse exercer a sua função atual. Na Live Mode, empresa responsável pela Cazé TV, quando fez o processo seletivo foi questionada nas entrevistas com perguntas do tipo: “Você é de atlética? Como foi? O que fazia? Que habilidades desenvolveu?”


Setor de transmissões da Cazé Tv e LiveMode (Reprodução: Cazé Tv/@cazetv)
Setor de transmissões da Cazé Tv e LiveMode (Reprodução: Cazé Tv/@cazetv)

Assim como Ashley, outro exemplo que entrou no mercado de trabalho com auxílio de atléticas universitárias, mas exerce uma função completamente diferente é Lucas Gomes, formado em publicidade pela UFF e ex-presidente da Atlética de Artes e Comunicação Social da universidade. Atualmente, o publicitário é coordenador e analista de operações comerciais na Live Mode. “O período que passei lá moldou a forma como eu lido com as pessoas no trabalho, seja com colegas ou com pessoas de outras empresas que precisamos estabelecer uma parceria, por exemplo. Mas hoje o que eu faço não tem tanto a ver”, contou Lucas.


Mais uma que se encaixa nesse cenário é Carla Abrahão. A jovem cursou Direito e Administração na FGV e foi presidente da atlética da faculdade. Porém, hoje trabalha com espaços para entregas comerciais na Live Mode. Carla entrou para a organização estudantil em 2021 como coordenadora de eventos. Mas, com a ideia principal de conhecer pessoas e fazer amizades, em pouco mais de um ano se tornou a presidente. Ela destaca que esse período serviu como uma espécie de orientação vocacional: “Se não fosse a atlética, eu nunca teria imaginado trabalhar com gestão esportiva, porque eu fui criada em um cenário de profissões tradicionais. O sentimento de pertencimento, de paixão, de família, foi o que me fez entender que eu queria trabalhar com esporte”, relatou.


Além disso, Carla contou também parte do seu processo para entrar na Live Mode e como a experiência da universidade contribuiu: “Eu consegui ao longo da minha seleção explicar que, por meio da atlética, eu tinha entendido que a minha paixão pelo esporte poderia me ajudar a mudar cenários e principalmente acreditar que o esporte pode impactar muita gente. Algo que a empresa também enxerga e acredita”.


O esporte e a educação no Brasil, em geral, são precarizados e quem quer seguir carreira profissional como esportista dificilmente consegue conciliar os estudos e treinos. É um dos pontos que a atlética, em condições proporcionais, consegue oferecer. Beatriz Ribeiro, formada em História da Arte pela EBA UFRJ, é a atual coordenadora do Fogo Cheers BFR, equipe de líderes de torcida do clube Botafogo. Ela conta que sua passagem pela atlética teve papel crucial para a sua atual profissão. “Meu sonho era a UFRJ ser como uma universidade norte-americana, no sentido de incentivo esportivo”, relatou.


Bia iniciou a sua trajetória em 2018 entrando para a equipe de líderes de torcida da Tubarões após relutar em aceitar os convites que recebia, por não achar que se encontraria naquele universo. Em pouco tempo, se apaixonou, e cerca de um ano depois se tornou coordenadora da modalidade, função que exerceu por quase quatro anos. “Cursava cheerleading e fazia faculdade nas horas vagas”, brincou.


Após a sua formatura na universidade em 2023, apresentou um projeto de cheerleading para a parte social do Botafogo, seu clube do coração, que não aceitou. Alguns meses depois, em janeiro de 2024, a parte da Sociedade Anónima do Futebol (SAF) do clube se interessou e a convidou para realizar o projeto como coordenadora da equipe, função que exerce atualmente. “Nunca sonhei em trabalhar com cheerleading. Não imaginava que era possível.”


As atléticas universitárias desempenham um importante papel no desenvolvimento pessoal e profissional de muitos estudantes, independentemente da área de atuação, sejam atividades similares ou não às realizadas no contexto universitário. “Saindo da atlética você está preparado para trabalhar com qualquer coisa”, afirmou Lucas Gomes, ex-presidente da Atlética de Artes e Comunicação Social da UFF.


Cheerleaders do Clube Botafogo de Futebol e Regatas (Reprodução: Clube Botafogo Futebol e Regatas)
Cheerleaders do Clube Botafogo de Futebol e Regatas (Reprodução: Clube Botafogo Futebol e Regatas)

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