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Do passado em direção ao futuro: tempos de jornalismos

Foto do escritor: Marialva BarbosaMarialva Barbosa

Por Marialva Barbosa 

Professora Titular da Escola de Comunicação da UFRJ


Marialva Barbosa
Coluna de Marialva Barbosa para a Revista Palácio

Duas imagens vêm à memória e que servem como ponto inicial para as breves reflexões deste texto. Quando os alunos, que tomaram a iniciativa de criarem uma revista para exercitarem, eles mesmos, o fazer jornalístico, da forma como querem e têm vontade, uma imagem do passado veio imediatamente se antepor como lembrança dominante: eu mesma, há muitas décadas, também participei da aventura de fazer um jornal, quando aprendia ainda na graduação o exercício profissional do fazer jornalístico. Imagens do passado se antepondo a um futuro que repete, invariavelmente, gestos longínquos.


A segunda e bela imagem que se coloca diz respeito ao orgulho que vi estampado no rosto de Gizele Martins, formada em jornalismo e atualmente fazendo doutorado em Comunicação na Escola de Comunicação da UFRJ, quando recebeu, este ano, o Prêmio Especial na 46ª edição do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Na sua fala, Gizele remarcou que já tinha recebido vários prêmios, mas aquele era especial, pois foi o primeiro que ela recebera como jornalista.

 Gizele Martins, comunicadora popular da Maré, no Rio de Janeiro.
Gizele Martins, comunicadora popular da Maré, no Rio de Janeiro. (Foto: Reprodução)

O orgulho emanava da sua fala quando ela repetia várias vezes a palavra jornalista e quando se referiu aos muitos jornalismos que existem hoje. Entre estes um ocupou no seu breve discurso lugar especial: o jornalismo das favelas, ela mesma cria da Maré. Recebia, assim, como jornalista, o prêmio por ter reconhecidas as relevantes contribuições para o cenário atual do jornalismo brasileiro. O jornalismo comunitário no sentido pleno de comunidade, no ato de ser quando o outro também é, o jornalismo da consciência de liberdade e de exercício de cidadania, era deste que ela se orgulhava diante daquele auditório lotado, recebendo um prêmio que trás no nome a personificação da luta pela igualdade e pela democracia.


O que une as duas lembranças, imagens sínteses de um passado permanentemente reatualizado, mas sobretudo que lança setas em direção a futuros possíveis e, sobretudo, desejados? Primeiro o desejo de jornalismos que ainda existe quando a profissão passa por mais um turbilhão de transformações. Segundo que não há apenas um jornalismo, mas muitos jornalismos, como Gizele pontuou acertadamente na sua fala. E terceiro, e não menos importante, cada um dos jovens que exercita nesta publicação desejos de jornalismo não quer apenas criar uma publicação, mas falar de temas numa perspectiva transformadora. Há no gesto dos que lançam esta revista, ao mesmo tempo, um vínculo do passado na direção de um futuro possível.


Que continuem florescendo muitos jornalismos, sobretudo, aqueles que transformam gritos, lutas, ressignificações do tempo em momentos plenos de esperança e de desejos de liberdades.   




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